Na Fé cristã, existem figuras cujas vidas, embora não detalhadas nas escrituras canônicas, são pilares fundamentais da Tradição da Igreja. Entre elas, destacam-se São Joaquim e Santa Ana, os veneráveis pais da Virgem Maria e, por extensão, os avós de Jesus Cristo. Seus nomes são simbólicos: Ana, do hebraico “Hanna”, significa “graça”, e Joaquim, “Javé prepara ou fortalece”. Eles não apenas deram à luz a Mãe de Deus, mas, através de sua profunda espiritualidade familiar, prepararam o coração de Maria para a missão singular que Deus lhe confiaria.
Fontes e Origens de Sua História
As informações sobre São Joaquim e Santa Ana provêm principalmente de textos apócrifos, como o Proto-Evangelho de Tiago e o Evangelho do Pseudo-Mateus, além da Tradição da Igreja Primitiva. É importante notar que, embora apócrifos, nem todos esses livros são considerados heréticos; muitos foram assimilados pela Tradição, ainda que não com o mesmo nível de autoridade dos Evangelhos canônicos. Segundo esses relatos, São Joaquim era descendente da Tribo de Davi, e Santa Ana, da família de Aarão, ou seja, da tribo de Levi e de Judá, e ambos eram conhecidos por sua honra e conduta notável.
Fé Inabalável Diante da Provação
Joaquim e Ana eram pessoas de profunda fé e confiança em Deus. No entanto, eles enfrentaram uma grande provação: a esterilidade e a idade avançada. Na cultura judaica da época, a ausência de filhos era vista como um sinal de maldição divina, o que lhes causava grande sofrimento e vergonha.
Diante da desesperança, o casal viveu uma vida de oração incessante, súplica e jejum. Santa Ana, lembrando-se da história de Abraão e Sara, prometeu que, se Deus lhe concedesse a graça de conceber, consagraria a criança ao Senhor e a Seu serviço por todos os dias de sua vida. São Joaquim também suplicou a Deus que o livrasse da vergonha de não ter filhos. Essa perseverança na fé e a certeza na realização das promessas de Deus tornam Santa Ana e São Joaquim um modelo de esperança e resiliência espiritual.
O Anúncio Divino e o Milagre da Graça
Deus ouviu as preces de Joaquim e Ana. Um anjo apareceu-lhes separadamente, anunciando que conceberiam uma filha que traria glória ao mundo e que se chamaria Maria. O nome “Maria” significa “iluminadora” ou “luz”, fazendo jus ao seu papel de trazer a Luz ao mundo, o Deus Encarnado.
O nascimento de Maria de um ventre estéril foi um milagre da natureza. Contudo, no ventre de Santa Ana, ocorreu o maior milagre da graça: a Imaculada Conceição da Virgem Maria. Desde o primeiro instante de sua concepção, a alma de Maria foi agraciada com uma abundância de caridade, pronta para o maior amor que já houve no coração de uma criatura por Deus.
A Educação de Maria e a Consagração no Templo
Santa Ana e São Joaquim foram os primeiros e mais influentes educadores da Virgem Maria. Eles foram responsáveis por formá-la no caminho da fé, alimentar seu amor pelo Criador e prepará-la para sua missão única. A tradição, inclusive, retrata Santa Ana ensinando a Virgem Maria.
Segundo a tradição cristã, quando Maria completou três anos de idade, o casal a levou ao Templo de Jerusalém para consagrá-la inteiramente ao serviço divino, cumprindo a promessa que fizeram ao Senhor. Maria permaneceu no Templo até os doze anos de idade. Este foi um sacrifício custoso para os pais, que sofreram a ausência da filha, mas ambos sabiam que esta era a vontade de Deus e o melhor caminho para ela.
Legado e o Dia dos Avós
A Igreja Católica celebra São Joaquim e Santa Ana em 26 de julho, data que também se tornou o Dia dos Avós. Eles são considerados os padroeiros dos avós.
O Papa Francisco, em 2013, sublinhou a importância dos avós na vida da família, especialmente na transmissão da fé e do “patrimônio de humanidade”. Ele também enfatizou a importância do “encontro e o diálogo entre as gerações”. Santa Ana e São Joaquim nos ensinam a cultivar a perseverança e a confiança em Deus. A devoção a eles é antiga, especialmente no Oriente, onde a liturgia os refere como “os santos avós de Deus”. Os avós de hoje, inspirados por eles, são convidados a ser “guardiões do tesouro do amor”, incentivando a oração em família e transmitindo sabedoria. A oração para proteção dos avós pede que se saiba “valorizar os idosos, dar atenção, carinho e afeto, respeito e dignidade” a eles.
A história de Santa Ana e São Joaquim é um testamento de que a fé e a educação no lar podem preparar o terreno para as maiores obras divinas, como um artesão que, com paciência e habilidade, molda o barro mais puro para a criação de sua obra-prima.