Em meio às páginas douradas da história da Igreja, há figuras que brilham com uma intensidade particular, não apenas por sua santidade pessoal, mas pelo legado perene que deixaram à fé. São Josafá é, sem dúvida, uma dessas estrelas. Sua vida, tecida no fervor e na controvérsia do século XVII, ressoa como um hino à unidade cristã, um desejo profundo do próprio Cristo: “Ut unum sint” – “Para que todos sejam um” (Jo 17,21).
Ele nos lembra que a fé não é um porto seguro para a inércia, mas uma viagem corajosa, muitas vezes tempestuosa, em busca da verdade e da plena comunhão.
Do Mundo ao Altar: Uma Conversão Profunda
Nascido como João Kuncewicz, em Wladimir, na Ucrânia, por volta de 1580, Josafá veio ao mundo em um lar que seguia o rito bizantino, mas que, à época, se encontrava separado da Sé de Pedro. Sua juventude como comerciante poderia ter traçado um caminho mundano, mas o Espírito Santo tinha outros planos para ele.
Ainda jovem, João sentiu um chamado irrefreável ao coração da fé católica, a mesma fé que, quatro anos antes de seu nascimento, havia sido abraçada por muitos bispos e fiéis de sua região na União de Brest (1596). Este importante evento histórico buscava reunir os cristãos de rito bizantino que viviam sob o domínio polonês à Igreja de Roma, permitindo-lhes manter suas ricas tradições litúrgicas, sacramentais e disciplinares. Foi nesse contexto de busca pela plena comunhão que João, movido por uma graça singular, deu um passo decisivo, abraçando a fé católica romana e ingressando na Ordem de São Basílio, adotando então o nome de Josafá.
Sua vida no mosteiro foi de profunda ascese e estudo. Aos 24 anos, já era monge e, em 1609, foi ordenado sacerdote. Seu zelo e virtudes logo o destacaram, tornando-o superior de conventos e, mais tarde, arquimandrita de Vilna. Ele não era apenas um líder, mas um apóstolo incansável da unidade, dedicando cada fibra do seu ser a restaurar a plena comunhão entre os irmãos.
O Pastor da Unidade: Um Zelo Sem Fronteiras
Arcebispo e Apóstolo
O reconhecimento de sua santidade e capacidade pastoral veio em 1617, quando foi nomeado Arcebispo de Polotsk, uma das sedes primaciais dos Ruthenos. Essa posição lhe conferiu ainda maior responsabilidade e desafios. Josafá não se furtou à luta; pelo contrário, mergulhou de corpo e alma em sua missão. Ele sabia que a unidade não se constrói apenas com decretos, mas com a formação do clero, a catequese do povo e uma evangelização vibrante que tocasse os corações.
Sua voz era forte, mas seu coração era ainda mais. Ele pregava incansavelmente sobre a importância da comunhão com o Sucessor de Pedro, buscando remover as barreiras do cisma e reconduzir à unidade aqueles que haviam se afastado. Seu apostolado foi abençoado com grande êxito, e muitos, tocados por sua palavra e exemplo, retornaram ao seio da Igreja Católica. Aqueles que, como Josafá, abraçavam a plena comunhão com Roma, eram então chamados de “uniates” – um termo que, infelizmente, era frequentemente usado de forma pejorativa pelos opositores, acusando-os de traidores e maus patriotas. Josafá, contudo, via nisto a verdadeira fidelidade ao Evangelho e à vontade de Cristo.
Um Coração Aberto aos Pobres e a Cristo
Mas o zelo de São Josafá não se limitava à defesa da doutrina ou à busca da unidade eclesial. Sua caridade era palpável. As portas de sua casa e, mais importante, de seu coração, estavam sempre abertas para acolher os pobres, os doentes e os necessitados. Ele via em cada irmão a face de Cristo e servia a todos com uma dedicação exemplar.
Para Josafá, a unidade eclesial e a caridade social eram duas faces da mesma moeda da fé. Não se pode amar a Deus sem amar o próximo, nem buscar a unidade na Igreja sem estender a mão aos mais vulneráveis. Seu testemunho de vida era um convite constante à conversão e à solidariedade, mostrando que a verdadeira fé se manifesta tanto na ortodoxia quanto na ortopraxia.
O Preço da Fidelidade: O Martírio Glorioso
Um zelo tão ardente e uma fé tão inabalável naturalmente atraíam a oposição. Josafá enfrentou calúnias, perseguições e violências por parte daqueles que resistiam à unidade. Ele sabia que estava no caminho da cruz, mas não recuou. Em 1623, durante uma viagem pastoral, a violência de seus adversários atingiu o auge. Com apenas 43 anos, Josafá foi brutalmente atacado, espancado e assassinado.
O ódio de seus algozes não cessou com a morte do corpo. Para ultrajar ainda mais sua memória, prenderam seu corpo a um cão morto e o lançaram em um rio. Mas o mal nunca tem a última palavra. Aquilo que parecia ser a derrota do pastor, tornou-se a glorificação do mártir.
A história nos revela que a semente do martírio de São Josafá gerou frutos inesperados e maravilhosos. O testemunho de sua fé e o horror de seu assassinato tocaram profundamente a consciência de muitos, inclusive de seus próprios perseguidores. Mais tarde, alguns dos que participaram de seu martírio se converteram e abraçaram a fé católica, uma prova eloquente do poder de Deus que transforma a iniquidade em graça, e a morte em vida.
Legado Vivo: Intercessor Pela Unidade Hoje
São Josafá foi reconhecido pela Igreja por suas virtudes heroicas e, sobretudo, pela santidade de seu martírio. Em 1867, o Papa Pio IX o canonizou solenemente, apresentando-o ao mundo como um modelo de fé, coragem e zelo pela unidade.
Hoje, séculos depois, a mensagem de São Josafá continua mais relevante do que nunca. Vivemos em um mundo marcado por divisões, não apenas entre as denominações cristãs, mas também dentro de nossas próprias comunidades e famílias. A intercessão de São Josafá nos convida a rezar e a trabalhar incansavelmente pela unidade, lembrando-nos que a verdadeira força da Igreja reside em sua comunhão com Cristo e entre seus membros. Ele nos desafia a ser pacificadores, construtores de pontes, e a amar a verdade da fé católica com a mesma paixão que o animou.
A Unidade é o Caminho
Que o exemplo de São Josafá nos inspire a buscar com todo o nosso ser a unidade que Jesus tanto desejou. Que possamos, em nossa vida diária, ser sinais vivos daquela comunhão que nos torna um só corpo em Cristo.
A fé viva em Cristo nos une e nos fortalece para construir um mundo mais fraterno, um passo de cada vez, na certeza de que o amor de Deus sempre vence.
Fonte de inspiração: Canção Nova






