A Vida Antes do Chamado: O Cobrador de Impostos
Em meio à efervescência da Galileia, na cidade de Cafarnaum, um homem chamado Levi exercia uma das profissões mais estigmatizadas de seu tempo: era um publicano, um cobrador de impostos. Essa não era uma simples ocupação; era uma atividade que o colocava à margem da sociedade judaica. Para muitos, Levi não era apenas um trabalhador; era um traidor, um colaborador do opressor romano que exigia tributos de um povo já subjugado. Sua mesa de cobrança, provavelmente exposta ao ar livre, era um símbolo de sua segregação, um lembrete constante de sua impopularidade.
Podemos imaginar a solidão de Levi, talvez por vezes confortada pela segurança material, mas certamente maculada pelo desprezo dos seus. Ele era um homem que lidava com números, com as finanças que sustentavam uma ocupação indesejada. Mas, por trás do balcão, pulsava um coração que, como todo coração humano, ansiava por algo mais profundo, algo que o dinheiro não podia comprar.
O Encontro Transformador: “Segue-me!”
Foi nesse cenário de rotina e de exclusão velada que o ordinário se tornou extraordinário. Jesus de Nazaré, o carpinteiro que falava com autoridade e curava os doentes, passou por ali. Seus olhos, que viam além das aparências, pousaram sobre Mateus. Não havia julgamento naquele olhar, apenas um convite **claro e irresistível**: “Segue-me!”.
Nenhuma hesitação, nenhum cálculo de perdas e ganhos. O texto sagrado nos relata que Mateus **”levantou-se e o seguiu”** de imediato. Deixou para trás não apenas sua mesa de cobrança e o fluxo de dinheiro, mas toda uma vida, toda uma identidade. Aquele gesto simbolizou uma renúncia total ao seu passado e a aceitação de um futuro incerto, mas repleto de promessas divinas. A partir daquele momento, Levi, o publicano, renasceria como Mateus, que significa “dom de Deus”, um nome que selaria sua nova missão e identidade em Cristo.
Essa conversão radical nos convida a refletir: o que temos nós, hoje, em nossas “mesas de cobrança” existenciais, que Jesus nos chama a deixar? Que seguranças mundanas nos impedem de responder com a mesma prontidão ao Seu convite?
O Primeiro Evangelista: A Voz de Cristo para os Judeus
Mateus não apenas seguiu Jesus, ele se tornou um de Seus doze Apóstolos, testemunha ocular de Seus ensinamentos, milagres, Paixão, Morte e Ressurreição. E, movido pelo Espírito Santo, ele se tornou o autor do primeiro dos quatro Evangelhos, uma obra prima de fé e teologia.
Seu Evangelho, acredita-se que inicialmente escrito em aramaico, a língua do povo judeu, tinha um propósito específico: mostrar aos cristãos de origem judaica que Jesus era, de fato, o **Messias esperado**, o cumprimento de todas as profecias do Antigo Testamento. Mateus tece cuidadosamente as narrativas, conectando cada evento da vida de Cristo com as Escrituras hebraicas, revelando a continuidade do plano divino de salvação. Sua experiência com números e detalhes, outrora aplicada à cobrança de impostos, agora servia à mais sublime das tarefas: registrar com precisão e fé as palavras e feitos do Salvador.
Além das Fronteiras: Zeloso Missionário
Após o Pentecostes e a ascensão do Senhor, os Apóstolos se espalharam para levar a Boa Nova a todas as nações. São Mateus não foi exceção. Sua jornada apostólica o levou para terras distantes do Oriente Médio, anunciando Cristo na Arábia e na Pérsia. Enfrentou resistências e perseguições, características do caminho missionário. Contam as tradições que, em uma dessas investidas contra sua fé, ele foi preso e teve seus olhos arrancados, sendo depois confinado para ser sacrificado a ídolos. Contudo, a mão de Deus não o abandonou; um anjo interveio, curando seus olhos e libertando-o, permitindo que prosseguisse em sua missão.
Deus o guiou até a Etiópia, onde sua pregação foi novamente contestada por feiticeiros locais. Mas a providência divina se manifestou de forma gloriosa: quando o príncipe herdeiro faleceu, Mateus foi chamado ao palácio. Pela graça de Deus, ele **ressuscitou o jovem príncipe**, um milagre que causou espanto e uma profunda conversão entre os presentes. Esse ato de poder divino estabeleceu a Igreja na Etiópia como uma das mais vibrantes e prósperas dos tempos apostólicos, um testamento do zeloso trabalho de Mateus.
Embora algumas fontes sugiram uma morte natural, a tradição mais difundida aponta para seu martírio na Etiópia, consolidando seu testemunho de fé inabalável.
Um Legado Vivo: O Patrono da Honestidade e do Dever
As relíquias de São Mateus são veneradas na Catedral de Salerno, na Itália, onde é festejado com devoção a cada 21 de setembro. Mas seu legado transcende os limites geográficos e temporais, tornando-o padroeiro de uma vasta gama de profissões ligadas ao mundo financeiro: banqueiros, contadores, auditores, cambistas, consultores tributários e, claro, cobradores de impostos.
Em 1934, o Papa Pio XI, acolhendo um pedido especial, declarou São Mateus como patrono da “Guardia di Finanza” da Itália. Este patrocínio não é meramente formal; é um profundo convite a todos que atuam nessas áreas a **unir o fiel exercício do dever para com o Estado com o seguimento igualmente fiel de Cristo**. São Mateus nos mostra que a santidade pode ser alcançada em qualquer profissão, desde que seja vivida com integridade, justiça e um coração voltado para Deus.
São Mateus Hoje: Um Convite à Conversão
A história de São Mateus é um farol de esperança para cada um de nós. Ela nos recorda que ninguém está tão distante da graça de Deus que não possa ser alcançado por Seu amor. Não importa o passado, a profissão ou os erros cometidos; o olhar de Jesus é sempre de convite, de transformação, de uma nova chance. São Mateus nos ensina a audácia de **deixar tudo para seguir o Mestre**, a coragem de evangelizar com a própria vida e a capacidade de santificar o trabalho cotidiano, transformando-o em um serviço a Deus e ao próximo.
Que a vida deste Apóstolo e Evangelista nos inspire a uma conversão diária, a uma fidelidade inabalável e a uma proclamação incansável do Evangelho, em todos os nossos ambientes, com a mesma paixão com que ele trocou sua mesa de impostos pelo banquete do Reino.
Que a audácia de São Mateus em seguir a Cristo nos inspire a abraçar nossa própria jornada de fé com total entrega e esperança renovada.
São Mateus, apóstolo e evangelista, rogai por nós!
Fonte de inspiração: Canção Nova