Nós, muitas vezes, nos perguntamos quem foi a mulher mais importante do mundo. Ao pensar em Nossa Senhora, tantos títulos vêm à mente: Fátima, Lourdes, Aparecida… mas, para além do que sabemos dos Evangelhos, quem realmente foi ela? A figura de Nossa Senhora é um mistério, envolta em um véu que Deus quis manter para si. Poucas são as fontes que nos dão detalhes sobre seus primeiros anos ou sua infância.
Para desvendar um pouco dessa história, nós nos baseamos principalmente na Bíblia, especialmente nos Evangelhos, que nos trazem algumas narrativas. Também contamos com os Evangelhos Apócrifos, que, embora não canônicos, oferecem algumas informações históricas. E, claro, a Tradição da Igreja, que desde os Apóstolos, pelos Padres da Igreja e através dos séculos, nos transmitiu um valioso conhecimento sobre a Virgem Maria.
A Origem e Infância de Nossa Senhora
Nossa Senhora nasceu em Nazaré, na Galileia. Seu nome era Maria, e ela era filha de Joaquim e Ana. É interessante notar o significado de seus nomes: Ana, que significa “graça”, e Joaquim, “preparação do Senhor”. Isso já nos dá uma pista da importância de Maria em relação à vontade divina.
As fontes divergem sobre a condição financeira da família, mas um consenso sugere que ela era de origem mais humilde, embora possuísse alguns bens. Ana e Joaquim, hoje venerados como São Joaquim e Sant’Ana, são os avós de Jesus e padroeiros dos avós. É lógico pensarmos que, se Maria foi concebida Imaculada e seria a Mãe de Deus, seus pais também seriam santos, formando um seio familiar preparado para tal missão.
A tradição nos conta que a concepção de Maria foi acompanhada por milagres. Ana e Joaquim eram estéreis, e após muitas orações e uma promessa de Ana de entregar o filho ao Templo, a esterilidade desapareceu. Além disso, houve uma “proto-Anunciação”: um anjo anunciou aos pais que conceberiam Maria, assim como em histórias do Antigo Testamento. Maria nasceu Imaculada, um dogma da nossa fé, livre do pecado original.
São João Damasceno, um grande escritor sobre a vida da Virgem, vê na Anunciação aos pais de Maria a comprovação de sua origem ligada à promessa messiânica. Maria também pertencia à tribo de Judá e à família de Davi, cumprindo a profecia de que o Messias viria dessa linhagem, tanto pelo lado de São José, seu pai adotivo, quanto por sua própria descendência carnal.
Aos três anos de idade, Maria foi oferecida ao Templo, cumprindo a promessa de Sant’Ana. Lá, ela permaneceu sendo educada nas Sagradas Escrituras, dedicando sua vida a Deus e se preparando para a missão que lhe aguardava. Nós celebramos este momento na festa da Apresentação de Nossa Senhora.
Nossa Senhora na Vida de Jesus
Quando Maria tinha cerca de 14 ou 15 anos, foi desposada com José, que teria entre 30 e 40 anos. Naquele tempo, o casamento se dava em duas etapas. A Anunciação do Anjo Gabriel, quando Maria conceberia o Salvador, ocorreu entre esses dois momentos ou após eles, mas o fato é que ela e José já estavam casados. José, um homem justo, ao saber da gravidez, decidiu abandoná-la em segredo para não a expor. Contudo, um anjo lhe apareceu em sonho, revelando que o filho era do Espírito Santo.
Seu casamento com José foi completo, mas sem união carnal. Maria permaneceu virgem antes, durante e depois do parto de Jesus – um dogma da Igreja, a Virgindade Perpétua. A tradição teológica também concorda que o parto de Maria não teve dores, pois, livre do pecado original, não estaria sujeita à punição de dores de parto dada a Eva.
Nós a acompanhamos em diversos momentos cruciais da vida de Jesus: a profecia de Simeão, quando uma “espada de dor” atravessou seu coração; a perda de Jesus no Templo aos 12 anos, prefigurando a dor do Calvário; e nas Bodas de Caná, onde sua intercessão levou Jesus a realizar seu primeiro milagre público, transformando água em vinho, uma prefiguração eucarística. A presença de Nossa Senhora é central na Crucificação, onde ela permanece em pé junto à cruz, recebendo de Jesus, na figura de João, a missão de ser Mãe de toda a humanidade.
Após a Ressurreição, Maria permaneceu com os Apóstolos, morando com João, sendo uma fonte primordial para São Lucas em seu Evangelho, que é considerado muito “mariano” por suas ricas menções a ela, incluindo o
“Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta em Deus, meu Salvador.”
Por tradição, sabemos que o próprio São Lucas teria feito a primeira pintura de Nossa Senhora. Ao final de sua vida terrena, ela passa pela dormição e é Assunta aos céus em corpo e alma, sendo coroada Rainha.
As Virtudes que Definem Nossa Senhora
Nossa Senhora é a Nova Eva; se por Eva o pecado entrou no mundo, por Maria a salvação nos veio, através de Jesus Cristo. Ela é a perfeição do ser humano, aquilo que Deus sonhou para a humanidade, sem a mácula do pecado original. Nela, encontramos a plenitude das virtudes, dos dons e dos frutos do Espírito Santo, uma abertura incomparável à graça divina.
É difícil elencar uma única característica de Maria, pois ela foi perfeita em tudo. Contudo, nós podemos destacar três virtudes que nos saltam aos olhos:
- Uma pureza única, por ter sido preservada do pecado original.
- Um amor verdadeiro a Deus, o ser humano que mais perfeitamente amou o Criador depois de Jesus.
- A docilidade à Vontade Divina, expressa no seu “sim”, o famoso Fiat (faça-se), que aceitou plenamente o plano de Deus em sua vida.
Ao contemplar Maria, nós somos convidados a refletir sobre nossa própria vida. Como podemos nos aproximar dela? Primeiro, buscando essa relação filial, aceitando-a como nossa Mãe, assim como São João a aceitou em sua casa. Em segundo lugar, pedindo seu auxílio e buscando nos assemelhar a ela, mesmo sabendo que não atingiremos sua perfeição. A principal forma de fazer isso é rezando o Terço e o Rosário, a oração mariana por excelência, que nos aproxima cada vez mais da Mãe de Deus a cada Ave-Maria que rezamos.




