Quem é Jesus para os judeus, e por que eles não O aceitam como o Messias? Essa é uma dúvida comum entre muitos cristãos e um dos temas centrais na relação entre o cristianismo e o judaísmo. Para os judeus, a figura de Jesus é complexa: reconhecido por alguns como um mestre ou profeta, Ele não é visto, em sua tradição religiosa, como o Messias prometido nas Escrituras.
Essa diferença de compreensão tem raízes profundas na história, na teologia e nas esperanças messiânicas do povo de Israel. Este artigo se propõe a explorar essa questão através da luz da Carta de Paulo aos Romanos, especialmente o capítulo 11, onde ele revela o mistério do plano de Deus e o papel do povo judeu na história da salvação. Vamos juntos compreender esse tema com profundidade, respeito e clareza.
O capítulo 11 da Carta aos Romanos, escrito pelo apóstolo Paulo, é uma das passagens mais profundas e reveladoras da Sagrada Escritura. Neste capítulo, Paulo trata de um tema que ainda hoje gera muitas perguntas: por que o povo judeu, escolhido por Deus, em sua maioria, não reconheceu Jesus como o Messias?
Este texto é um convite à reflexão sobre o plano divino, a fidelidade de Deus às suas promessas e o papel de Israel na história da salvação. Vamos entender juntos, de forma clara e acessível, o que diz esse capítulo, e ao final, responderemos à pergunta que muitos fazem: quem é Jesus para os judeus?
Deus Não Rejeitou Seu Povo
Paulo começa com uma afirmação clara e poderosa:
“Terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum!” (Rm 11,1)
Ele reforça que ele mesmo é judeu, da tribo de Benjamim, e exemplo vivo de que Deus continua agindo entre os israelitas. Paulo lembra o episódio do profeta Elias, que achava estar sozinho na fé, mas Deus lhe revelou que havia sete mil homens fiéis que não se dobraram a Baal.
Essa história nos ensina que, mesmo quando parece haver rejeição ou fracasso, Deus sempre guarda um “remanescente fiel”. Nunca estamos sozinhos na fé, e Deus não abandona os seus.
O Mistério do Endurecimento de Israel
Paulo revela um ponto essencial: o fato de muitos judeus não terem reconhecido Jesus como o Messias faz parte de um plano maior.
“Pela transgressão deles, veio a salvação aos gentios” (Rm 11,11)
Ou seja, o não acolhimento de Jesus por parte dos judeus abriu caminho para que o Evangelho chegasse aos povos não-judeus (os gentios). Isso não significa uma rejeição definitiva, mas sim uma etapa no processo de redenção da humanidade.
Essa é uma ideia surpreendente: Deus usa até a incredulidade para manifestar sua misericórdia. O aparente “fracasso” do povo da Aliança não é definitivo. Pelo contrário, é o início de uma nova etapa do plano salífico.
A Esperança da Restauração
Paulo afirma com esperança:
“Se o fato de terem sido eles rejeitados trouxe reconciliação ao mundo, que será o seu restabelecimento, senão vida dentre os mortos?” (Rm 11,15)
Aqui vemos que a história ainda não acabou. Haverá um tempo em que Israel será restaurado, e muitos judeus reconhecerão Jesus como o Cristo. Isso será como uma nova ressurreição espiritual, um novo Pentecostes.
Paulo usa a imagem da oliveira para explicar: os ramos naturais (os judeus) foram cortados por incredulidade, e ramos de oliveira brava (os gentios) foram enxertados. Mas se os ramos naturais voltarem a crer, Deus tem poder para enxertá-los novamente.
Humildade e Gratidão dos Cristãos Gentios
Paulo faz um alerta aos cristãos não-judeus:
“Não te glories contra os ramos; […] não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti.” (Rm 11,18)
Ou seja, devemos sempre lembrar que a fé cristã tem raízes judaicas. Jesus, Maria, os apóstolos, os profetas — todos eram judeus. Nossa fé é um prolongamento da história da salvação iniciada com Abraão.
Não há espaço para soberba ou antissemitismo. Pelo contrário, devemos ter gratidão e respeito pelo povo que nos transmitiu a fé. Devemos rezar por eles, desejando sua plena reconciliação com o Messias.
Tudo é Graça e Misericórdia
No final do capítulo, Paulo chega ao cume da sua reflexão:
“Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão impenetráveis os seus caminhos!” (Rm 11,33)
Essa exaltação mostra que o plano de Deus é maior do que podemos compreender. Há momentos em que nos parece injusto, confuso ou incompleto. Mas, na verdade, tudo está sob o olhar amoroso e fiel de Deus.
Quem é Jesus para os Judeus?
Essa é uma pergunta comum entre cristãos: “Se os judeus esperavam o Messias, por que não aceitaram Jesus? Quem é Ele para eles?”
A resposta não é simples, pois o judaísmo não é homogêneo, e existem diversas correntes dentro dele. Mas de forma geral, podemos dizer:
- Para os judeus, Jesus foi um judeu do primeiro século, um pregador, talvez um profeta, mas não o Messias prometido.
- Eles ainda aguardam um Messias que trará paz, reconstruirá o Templo e reunirá todo o povo de Israel. Como Jesus não cumpriu essas expectativas políticas e nacionais, eles não o reconhecem como o Cristo.
- Além disso, a imagem de Jesus como Deus encarnado é incompatível com a teologia judaica, que vê Deus como absolutamente único e indivisível.
Contudo, muitos judeus hoje estudam os Evangelhos com respeito e curiosidade. Alguns se tornam judeus messiânicos, reconhecendo Jesus como Messias, embora mantenham sua identidade judaica.
A Igreja nos convida a respeitar e dialogar com o povo judeu, sem impor nossa fé, mas sempre testemunhando com amor e esperança.
Confiança no Plano de Deus
O capítulo 11 de Romanos é uma verdadeira aula de teologia e espiritualidade. Ele nos ensina que:
- Deus é fiel às suas promessas.
- O povo de Israel continua sendo parte do plano de salvação.
- O endurecimento do coração também pode servir a um bem maior.
- Devemos viver nossa fé com humildade, gratidão e esperança.
No fim, tudo converge para uma verdade central:
“Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11,36)
Que possamos contemplar, com olhos de fé, o grande mistério da redenção, confiando sempre que Deus está conduzindo a história com sabedoria, amor e misericórdia.