O Papa Leão XIV convida a uma profunda reflexão sobre a nossa responsabilidade para com o meio ambiente, renovar o compromisso de cuidar da casa comum. Em 1º de setembro, Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, a Igreja celebrou o início do Tempo da Criação, período que se estende até 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis. Este ano, o tema escolhido, “Paz com a criação”, nos impulsiona a uma ação urgente e transformadora.
A Paz como Restauração
A Inspiração em Isaías
A reflexão proposta pelo Comitê Diretivo Ecumênico se baseia em Isaías 32, 14-18, que descreve uma criação devastada pela injustiça e pela ruptura da relação entre Deus e a humanidade. Cidades destruídas e terras áridas refletem o impacto negativo da ação humana no planeta. O plano divino para a criação se fundamenta na justiça e na paz, mas o pecado humano o perturba, levando a um cenário de ruínas, afetando desde palácios opulentos até terras agricultáveis, florestas e oceanos.
Além da Ausência de Guerra
A paz, contudo, não se limita à ausência de conflitos bélicos. Ela representa a restauração das relações quebradas: com Deus, entre os seres humanos e com a criação. A humanidade trava uma guerra contra a criação através da exploração desenfreada dos recursos naturais, do consumo exacerbado e da perda de biodiversidade. A ganância corporativa e o consumismo impulsionam práticas insustentáveis, mas cada indivíduo também é cúmplice dessa realidade.
Um Tempo de Conversão e Compromisso
O Tempo da Criação é um apelo à reconciliação, um período para renovar a relação da humanidade com Deus Criador e toda a sua criação. A iniciativa une cristãos de diversas igrejas em oração e ação pela preservação do planeta. A Igreja Católica participa ativamente desde 2019, impulsionada pelo Papa Francisco, que se juntou a uma iniciativa celebrada pelos ortodoxos desde 1989. Durante este mês, cerca de 2,2 bilhões de cristãos se unem em prol do cuidado da nossa casa comum.
O Legado de Nicéia
A celebração dos 1700 anos do Concílio Ecumênico de Nicéia também ganha destaque neste contexto. O Credo de Nicéia, que estabeleceu a profissão de fé comum entre as Igrejas Cristãs, simboliza um vínculo de paz e comunhão. O trabalho pela paz com a criação se apoia nessa antiga e sólida comunhão ecumênica. A busca pela paz ambiental é uma expressão concreta do Credo de Nicéia nos dias atuais. A fé e a unidade ecumênica fortalecem os fiéis no compromisso de seguir o apelo de Isaías e testemunhar a promessa divina de paz para toda a criação.
O Cântico do Irmão Sol: Um Hino à Criação
A oração a São Francisco de Assis, com seu Cântico do Irmão Sol, se torna um convite a contemplar a beleza e a grandeza da criação: “Altíssimo, onipotente, bom Senhor, teus são o louvor, a glória e a honra e toda a bênção… Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o Senhor Irmão Sol, o qual é dia, e por ele nos iluminas. E ele é belo e radiante com grande esplendor, de ti, Altíssimo, traz o significado…” A prece nos convida a reconhecer a interdependência entre todas as coisas e a nossa responsabilidade para com cada elemento da criação divina.
Sementes de Paz e Esperança: Uma Mensagem Urgente
O tema do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação deste ano, escolhido pelo Papa Francisco, é “Sementes de Paz e Esperança”. Papa Leão XIV, em sua mensagem, ressaltou a necessidade de ações concretas além da oração, para que a justiça e o direito floresçam. Ele lamentou o aumento na intensidade e frequência de fenômenos naturais extremos, consequências das mudanças climáticas provocadas pela ação humana, agravados pelos impactos de conflitos armados. O Papa Leão XIV enfatiza a necessidade de ações práticas: “Chegou verdadeiramente o tempo de dar seguimento às palavras com obras concretas. ‘Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã’ ( Laudate Deum , 217). Trabalhando com dedicação e ternura, muitas sementes de justiça podem germinar, contribuindo para a paz e a esperança.”
A Urgência da Ação
A preservação do planeta não é apenas uma questão ambiental, mas uma questão de fé e de humanidade. É fundamental que cada indivíduo, comunidade e nação assumam seu papel na construção de um futuro sustentável, marcado pela justiça e pela paz com a criação. A Igreja, com sua voz profética, nos chama à conversão ecológica, à prática da solidariedade e ao compromisso com a justiça ambiental, como caminhos para um mundo mais justo, pacífico e sustentável para as gerações presentes e futuras.
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