No coração da espiritualidade cristã está o mandamento do amor: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o coração, e ao próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 37-39). Mas como crescer nesse amor? São Bernardo de Claraval (1090-1153), grande Doutor da Igreja e místico cisterciense, propôs uma jornada espiritual em quatro graus de amor, que nos ajuda a entender como o coração humano se purifica e se une a Deus.
Neste artigo, exploraremos essa bela teologia do amor, que continua profundamente atual para todos que desejam viver uma vida santa.
1. O Primeiro Grau: Amar a Si Mesmo por Si Mesmo
O ponto de partida é natural: o amor próprio. São Bernardo não condena esse amor, pois ele é essencial para a sobrevivência e o equilíbrio humano. Afinal, ninguém pode amar verdadeiramente os outros sem primeiro se amar de maneira saudável.
No entanto, esse sentimento pode ficar limitado ao egoísmo se não for elevado a algo maior. Muitas pessoas hoje vivem presas nesse estágio, buscando apenas o próprio bem-estar, prazer e sucesso, sem considerar Deus ou o próximo.
🔹 Pergunta para reflexão:
Como você tem cultivado o amor próprio? Ele está direcionado apenas para seu benefício, ou está aberto a Deus e aos outros?
2. O Segundo Grau: Amar a Deus por Interesse Próprio
Quando o homem percebe que não se basta sozinho, começa a buscar algo maior. Nesse estágio, ele ama a Deus, mas ainda por interesse – pede saúde, prosperidade, milagres ou até mesmo o Céu.
Essa forma de amar não é ruim – afinal, Deus nos convida a buscá-Lo em nossas necessidades (“Pedi e recebereis” – Mt 7,7). No entanto, ainda é um amor infantil, como o de uma criança que obedece aos pais para ganhar um presente.
🔹 Pergunta para reflexão:
Você ora apenas quando precisa de algo, ou também louva e agradece a Deus independentemente das circunstâncias?
3. O Terceiro Grau: Amar a Deus por Ele Mesmo
Aqui acontece uma grande transformação: a pessoa descobre a beleza de Deus e O ama não pelo que Ele dá, mas pelo que Ele é.
É o amor do verdadeiro discípulo, que diz como São Pedro: “Senhor, a quem iremos? Só Tu tens palavras de vida eterna!” (Jo 6,68). Nesse estágio, a alma experimenta uma doce intimidade com Deus, encontrando alegria apenas n’Ele.
🔹 Pergunta para reflexão:
Você já sentiu que ama a Deus simplesmente por quem Ele é, mesmo em meio às dificuldades?
4. O Quarto Grau: Amar a Si e aos Outros por Causa de Deus
Esse é o ápice da vida espiritual, onde o amor se torna totalmente desapegado e divino. A pessoa não só ama a Deus por Ele mesmo, mas também passa a amar a si mesma e ao próximo por amor a Deus.
Nesse grau, o “eu” desaparece, e o cristão vive como São Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas Cristo vive em mim” (Gl 2,20). Tudo – oração, trabalho, caridade – é feito para a glória de Deus, não por mérito próprio.
🔹 Pergunta para reflexão:
Você consegue amar os difíceis, perdoar ofensas e servir sem esperar reconhecimento, apenas por amor a Deus?
Como Progredir nos Graus do Amor?
São Bernardo sabia que ninguém chega ao quarto grau da noite para o dia. É um processo de conversão contínua, que exige:
✅ Oração e meditação (para conhecer e amar a Deus mais profundamente).
✅ Sacrifício e renúncia (para vencer o egoísmo).
✅ Caridade concreta (para amar o próximo como Cristo nos amou).
Um Convite ao Amor Total
Os quatro graus do amor são um mapa espiritual que nos guia para uma união plena com Deus. Se ainda estamos no primeiro ou segundo grau, não devemos desanimar – a santidade é um caminho, e Deus nos chama a avançar passo a passo.
Que Nossa Senhora, a quem São Bernardo tanto amou, nos ajude a crescer no amor até chegarmos ao quarto grau, onde Deus será tudo em todos (1Cor 15,28).
💬 E você? Em qual grau se identifica mais? Compartilhe nos comentários!
📖 Para se aprofundar:
- “Do Amor de Deus” (De Diligendo Deo), de São Bernardo de Claraval.
- Catecismo da Igreja Católica (§§ 1822-1829) sobre a virtude da caridade.