O Simili modo, uma parte crucial do cânon romano da Missa, é repleto de simbolismo e detalhes fascinantes. Esta oração, proferida sobre o cálice, contempla a instituição da Eucaristia, unindo o gesto do sacerdote com a ação de Cristo na Última Ceia. A profundidade teológica e histórica desta parte da liturgia nos convida a uma reflexão profunda sobre a fé.
Elementos do “Simili Modo”: Surpreendentes e Não Surpreendentes
Podemos dividir os elementos presentes no Simili modo em duas categorias: os previsíveis e os surpreendentes. Entre os aspectos esperados, estão descrições como “sanctas ac venerábiles manus suas” (suas santas e veneráveis mãos) e “benedixit” (abençoou), já presentes em outras orações da consagração. A inclusão de “Novi et æterni testamenti” (Nova e Eterna Aliança), por sua vez, encontra amparo em Hebreus 13, 20-21, reforçando a imutabilidade do novo pacto selado por Cristo. A expressão “praeclarum” (excelente), empregada para descrever o cálice, faz eco ao Salmo 22, 5, e se relaciona à nobreza do objeto que contém o Precioso Sangue de Cristo.
O Simili modo, assim como o Qui pridie (oração sobre a hóstia), apresenta uma perfeita correspondência entre a palavra e a ação do sacerdote. Quando ele menciona que Cristo tomou o cálice, ele o toma em suas mãos; ao dizer “novamente dando graças”, inclina a cabeça em sinal de gratidão. A oração demonstra claramente o princípio de que o sacerdote age in persona Christi (na pessoa de Cristo).
O Sopro do Espírito Santo: Um Aspecto Insuflado
Outro aspecto notável é a dimensão epiclética, ligada à insuflação. A pronúncia do “H” inicial (Hic – este) exige uma forte expiração do sacerdote, que, próximo ao cálice, produz um movimento semelhante ao do Espírito Santo sobre as águas na criação (Gn 1, 2). Essa conexão espiritual é intensificada pela postura do sacerdote que se inclina sobre o cálice, lembrando o Espírito Santo sobre Maria na Anunciação (Lc 1, 35). A liturgia se torna, dessa forma, uma poderosa dramatização da presença divina.
Os Elementos Surpreendentes no Simili Modo
Apesar dos aspectos previsíveis, o Simili modo contém elementos intrigantes. O uso do pronome demonstrativo “hunc” (este), para se referir ao cálice, é particularmente notável. Não há outra tradução possível a não ser “este”, sugerindo a identidade entre o cálice utilizado pelo sacerdote e o cálice da Última Ceia. Os ritos reforçam essa interpretação, o sacerdote levanta o cálice enfatizando a palavra “este”.
Essa afirmação nos leva a teorias fascinantes, como a que afirma que a Igreja de Roma possuía o Santo Graal, o cálice utilizado por Cristo na Última Ceia. A história de relíquias e a fé inabalável na preservação da fé são provas da importância da transmissão da história da Igreja.
A Presença Eterna: “Este Cálice”
A frase “hunc praeclarum calicem” (este cálice excelente) ressalta a unidade entre a Missa presente e o Sacrifício da Calvário, como aponta Kwasniewski. A identidade entre o cálice da Última Ceia e o cálice do altar reside, principalmente, na matéria sacramental nele contida, sendo essencialmente o mesmo sangue de Cristo. Essa identidade torna-se perfeita numericamente após a consagração. O uso de “este” intensifica a atuação do sacerdote “in persona Christi”, criando uma sensação de imediação, onde tempo e espaço se fundem na eternidade do evento.
O Simili modo, portanto, é muito mais do que uma simples oração. É uma profunda meditação sobre o mistério da Eucaristia, uma celebração da presença real de Cristo, e um testemunho vivo da fé cristã ao longo dos séculos. Sua análise nos leva a uma compreensão mais plena da beleza e da riqueza da liturgia católica.
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