Neste domingo, 19 de outubro, Dia Mundial das Missões, a Praça São Pedro foi palco de um momento de profunda espiritualidade. O Papa Leão XIV presidiu a solene missa de canonização de sete beatos, elevando-os à santidade e oferecendo-os como novos faróis de inspiração para os fiéis. Os novos santos são: Inácio Maloyan, Pedro To Rot, Vincenza Maria Poloni, Maria Carmen Rendiles Martínez, Maria Troncatti, José Gregório Hernández Cisneros e Bartolo Longo.
O Pontífice iniciou sua homilia com uma questão do Evangelho de Lucas: “Quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?”. Essa pergunta, destacou Leão XIV, “nos revela o que é mais precioso aos olhos do Senhor: a fé, ou seja, o vínculo de amor entre Deus e o ser humano”. Uma conexão vital que sustenta a vida espiritual de cada indivíduo.
O Santo Padre frisou que os católicos tinham diante de si sete “testemunhas” — os novos santos e santas — que, pela graça divina, mantiveram acesa a “lâmpada da fé”. Eles não apenas preservaram essa chama, mas “eles mesmos se tornaram lâmpadas capazes de difundir a luz de Cristo”, iluminando o caminho da salvação para outros.
A Fé como Eixo da Vida Cristã
Leão XIV aprofundou-se no valor da fé, afirmando que ela sobressai diante dos bens materiais, culturais, científicos e artísticos. Não por desprezá-los, mas porque, sem fé, esses bens perdem seu sentido mais profundo. A relação com Deus é primordial, pois Ele criou todas as coisas do nada e, no tempo, salva do nada tudo o que perece.
“Uma terra sem fé seria povoada por filhos que vivem sem Pai, ou seja, por criaturas sem salvação”, argumentou o Pontífice. A ausência de crença em um Criador e Salvador leva a uma existência desprovida de propósito maior e de esperança transcendente, perdendo a bússola espiritual que guia a vida humana.
A centralidade da fé se manifesta também na oração incessante. Leão XIV recordou as palavras de Cristo sobre a “obrigação de orar sempre, sem desfalecer”. Ele comparou a oração à respiração: “tal como não nos cansamos de respirar, também não nos cansemos de orar!”. Para o Santo Padre, “a fé, com efeito, expressa-se na oração e a oração autêntica vive da fé”, sendo o sustento vital da alma.
A Justiça de Deus e as Provações da Fé
O Pontífice abordou a justiça divina através da parábola da viúva persistente. Jesus mostra como um juiz, inicialmente indiferente, cede aos pedidos incessantes de uma viúva. Essa tenacidade é um exemplo de esperança em momentos de provação, onde a persistência na oração pode ser decisiva.
A parábola culmina em uma pergunta provocante de Jesus: “Deus, Pai bom, «não fará justiça aos seus eleitos, que a Ele clamam dia e noite?»”. O Papa convidou à reflexão: “O Senhor nos pergunta se acreditamos que Deus é um juiz justo para com todos. O Filho nos pergunta se acreditamos que o Pai quer sempre o nosso bem e a salvação de todas as pessoas”.
Leão XIV alertou para duas tentações que desafiam a fé. A primeira surge do escândalo do mal, levando à dúvida se Deus realmente ouve o clamor dos oprimidos e se compadece do sofrimento inocente. Esta é uma tentação comum que questiona a bondade divina face à injustiça e à dor do mundo.
A segunda tentação é a pretensão de ditar a Deus como deve agir, transformando a oração em uma “ordem” sobre como ser justo e eficaz. Jesus, testemunha perfeita de confiança filial, liberta-nos de ambas. Ele reza na Paixão: “Pai, faça-se a tua vontade”. A cruz de Cristo, ao dar a vida por todos, revela a justiça de Deus, que é o perdão: Ele vê o mal e o redime, tomando-o sobre si.
“Quando somos crucificados pela dor e pela violência, pelo ódio e pela guerra, Cristo já está ali, na cruz por nós e conosco”, afirmou Leão XIV. Não há dor que Deus não console, nem lágrima longe de seu coração. O Senhor nos escuta, abraça-nos como somos para nos transformar. Quem recusa a misericórdia divina, permanece incapaz de misericórdia para com o próximo.
As perguntas de Jesus são um vigoroso convite à esperança e à ação: “quando o Filho do homem vier, encontrará fé na providência de Deus?”. Essa fé sustenta o compromisso com a justiça, pois a crença de que Deus salva o mundo por amor liberta do fatalismo. Somos chamados a ser testemunhas do amor do Pai, como Cristo foi.
Os Novos Santos: Faróis de Fé
Os novos santos canonizados neste domingo são, nas palavras do Santo Padre, “amigos de Cristo”. Suas vidas representam diversas formas de santidade, todas enraizadas em uma profunda fé e amor a Deus.
Inácio Maloyan e Pedro To Rot: Mártires da Fé
O Bispo Inácio Maloyan e o catequista Pedro To Rot são mártires que deram suas vidas pela fé. Seus testemunhos de coragem e fidelidade inabalável a Cristo, mesmo diante da perseguição, são exemplos de supremo sacrifício.
Maria Troncatti: Evangelizadora Missionária
A Irmã Maria Troncatti é um luminoso exemplo de evangelização e missão. Sua vida foi dedicada a levar a mensagem de Cristo a povos distantes, com um espírito de serviço e doação total, difundindo a palavra de Deus com amor e perseverança.
Vincenza Maria Poloni e Maria Carmen Rendiles Martinez: Fundadoras Carismáticas
A Irmã Vincenza Maria Poloni e a Irmã Maria Carmen Rendiles Martinez são reconhecidas como fundadoras carismáticas. Elas inspiraram e estabeleceram novas comunidades religiosas, deixando um legado duradouro de caridade, educação e serviço aos necessitados, guiadas por sua profunda fé e visão apostólica.
Bartolo Longo e José Gregório Hernández Cisneros: Benfeitores da Humanidade
Bartolo Longo e José Gregório Hernández Cisneros foram benfeitores da humanidade, com corações ardentes de devoção. Bartolo Longo dedicou-se à propagação do Rosário e a obras de caridade. José Gregório Hernández Cisneros, médico, serviu os pobres com paixão e carinho, praticando a medicina como um ato de fé e misericórdia.
Esses novos santos, frisou Leão XIV, “não são heróis, nem paladinos de um ideal qualquer, mas homens e mulheres autênticos”. Suas vidas espelham a luz de Cristo, mostrando que a santidade é acessível e se manifesta na entrega diária e na fé.
O Papa Leão XIV desejou que a intercessão e o exemplo dos novos santos assistam os fiéis nas provações e inspirem na comum vocação à santidade. “Enquanto peregrinamos rumo a esta meta, rezemos sem nos cansarmos, firmes naquilo que aprendemos e acreditamos resolutamente. A fé sobre a terra sustenta assim a esperança do céu”, concluiu o Pontífice, com uma mensagem de esperança e encorajamento.






