Apocalipse: Como interpretar o reinado de 1000 anos?
Apocalipse: Como interpretar o reinado de 1000 anos?

Apocalipse: Como interpretar o reinado de 1000 anos?

Quando mergulhamos nos textos escatológicos do Apocalipse na Bíblia, percebemos uma riqueza imensa de ensinamentos sobre o fim dos tempos. Embora muitas passagens abordem esse tema, um livro se destaca: o Apocalipse de São João. Em especial, o capítulo 20 levanta questões profundas sobre o que São João pretendia nos revelar com sua linguagem simbólica, e a chave para entender tudo isso parece girar em torno da interpretação do milênio.

No Apocalipse, nós lemos sobre um primeiro combate escatológico no capítulo 19, onde as forças do mal são derrotadas. Em seguida, o capítulo 20 nos apresenta a primeira ressurreição dos justos e o fascinante reinado de Cristo com os santos por mil anos. Depois desse período, o demônio é solto para um segundo combate, mas é definitivamente derrotado, culminando no Juízo Final e na ressurreição universal.

Apocalipse: Como interpretar o reinado de 1000 anos?

Essa sequência de eventos – a vinda de Jesus, a ressurreição dos justos e o reinado de mil anos – nos leva a uma grande questão: O que o Evangelista São João, um dos apóstolos, queria nos revelar com estas palavras inspiradas por Deus? A resposta é crucial para compreendermos o panorama do fim dos tempos.

Para buscar clareza, nós podemos nos apoiar na sabedoria de grandes estudiosos. O famoso jesuíta francês, Cardeal Jean Daniélou, um dos maiores especialistas na teologia dos Padres da Igreja, fez uma afirmação muito pertinente sobre a controvérsia do milênio. Ele disse que

o milenarismo, a crença que haverá um reinado terreno do Messias antes do fim dos tempos é a doutrina judaico-cristã que despertou e continua a despertar mais argumentos do que qualquer outra.

Isso mostra o quanto a interpretação do milênio é um tema de intensos debates. Daniélou atribuía essa complexidade à ‘incapacidade de distinguir entre os vários elementos da doutrina’, ressaltando a necessidade de fazer distinções para evitar confusões.

Apocalipse: A Interpretação dos Primeiros Padres da Igreja

Nos primeiros quatro séculos, Padres como Santo Irineu de Lyon interpretavam o milênio de forma mais literal. Eles viam uma grande tribulação, a vinda de Cristo, a ressurreição dos santos e uma era de paz messiânica de mil anos na Terra, seguida pelo último combate, o Juízo Final e os novos céus e a nova terra.

A Evolução das Interpretações e a Era de Paz

No entanto, Orígenes já propunha uma interpretação alegórica. São Jerônimo, por sua vez, combateu o herege Cerinto, que defendia uma visão política e terrena do milênio, um ‘erro judaico’ que esperava um Messias como líder militar, não espiritual. Jerônimo nos lembra que o reino de Jesus ‘não é deste mundo’.

Influenciado por Jerônimo, Santo Agostinho, que a princípio seguia a visão literal, adotou a interpretação alegórica. Para ele, o milênio começou com a Ressurreição de Cristo, sendo a Igreja o próprio Reino. Essa perspectiva se tornou a mais aceita e ensinada em nossa Igreja por muitos séculos.

Em minha própria jornada de fé, confesso que vivenciei uma certa crise ao deparar-me com mensagens de Nossa Senhora em aparições aprovadas. Eu estava habituado à visão agostiniana: Jesus volta uma única vez para o Juízo Final. Contudo, essas revelações apresentavam um esquema diferente: uma grande tribulação, a vinda de Cristo como Rei e, então, uma era de paz, antes do Juízo Final. Jesus não ficaria visivelmente presente, mas seu reinado se manifestaria plenamente.

Essa distinção entre os paradigmas de Santo Irineu e Santo Agostinho me intrigou profundamente. Percebemos que não são só as aparições marianas; muitos santos e místicos da Igreja, como Santa Hildegarda, Santa Brígida, Santa Faustina e São Padre Pio, também descrevem uma era de paz após a grande tribulação e a vinda de Cristo Rei. Essa visão, que ecoa os primeiros Padres, oferece a esperança de uma conversão global a Jesus antes do ponto final da história.

Entender o milênio não é apenas um exercício teológico; é um convite a aprofundar nossa fé e a desvendar os desígnios de Deus para o fim dos tempos, dissipando medos e revelando a beleza do plano divino.

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