Imagine uma criança, ainda em sua tenra idade, sendo conduzida pelos pais não para brincar nos campos, mas para o lugar mais sagrado de sua fé, o Templo. Não como uma visita casual, mas para uma entrega total, um “sim” antes mesmo das palavras serem plenamente formadas. É essa a imagem que a Igreja Católica nos convida a contemplar neste dia, ao celebrarmos a Festa da Apresentação de Nossa Senhora no Templo. Uma festa que, embora não se encontre nas páginas explícitas dos Evangelhos canônicos, pulsa com a força da Tradição e nos revela a profundidade do coração de Maria.
Nas Fontes da Fé e da Tradição
As histórias mais detalhadas sobre a infância de Maria nos chegam por meio dos chamados Evangelhos apócrifos, como o Protoevangelho de Tiago. Neles, somos levados a um tempo de grande expectativa e promessa. Após anos de oração fervorosa, Joaquim e Ana, pais de Maria, recebem a graça de ter uma filha. Em gratidão e como cumprimento de um voto, eles oferecem Maria a Deus ainda muito jovem, levando-a ao Templo de Jerusalém. Ali, Maria permaneceria, dedicada ao serviço divino, crescendo em sabedoria e graça.
A Igreja, ao longo dos séculos, acolheu com sabedoria essa tradição popular, discernindo nela uma verdade espiritual profunda. Não se trata apenas de um acontecimento histórico, mas de um ato profético, que prefigurava a total disponibilidade de Maria para os planos de Deus. Esta memória, tão enraizada na fé do povo, foi formalmente integrada à liturgia católica a partir de 1505, ecoando a dedicação de uma igreja construída em 543 perto do Templo, a Igreja de Santa Maria Nova.
O Dom Total de Maria e o Nosso Chamado
Mais do que a narrativa de um evento, a Festa da Apresentação celebra o dom total de si que a jovem Maria fez a Deus. Impelida pelo Espírito Santo desde sua Imaculada Conceição, sua vida foi um contínuo “fiat”. Ela se preparou para ser o “templo do Filho”, a arca viva da Nova Aliança. Santo Agostinho sabiamente nos lembra: “Acaso não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que creu pela fé, pela fé concebeu? Fez Maria totalmente a vontade do Pai e por isso mais valeu para ela ser discípula de Cristo do que mãe de Cristo.” Sua maior felicidade não estava apenas em sua maternidade divina, mas em sua obediência e fé inabalável.
Essa festa nos interpela hoje. Ela nos convida a revisitar a nossa própria consagração a Deus, iniciada no Batismo. Somos lembrados de que amar e servir ao Senhor não é uma opção, mas um compromisso essencial para cada cristão. É uma provocação a examinarmos o quanto do nosso coração, da nossa vida, de nossos talentos e tempo, temos verdadeiramente oferecido a Deus. O “sim” de Maria, ainda criança, ressoa como um chamado para que também nós, em qualquer fase da vida, renovemos nossa entrega, confiando na Providência Divina.
Curiosidades e Reflexões Contemporâneas
A riqueza desta data se estende por outras celebrações e marcos. A Beata Maria do Divino Coração, por exemplo, nutria uma devoção tão especial a esta festa que escolheu o dia 21 de novembro para realizar os atos mais importantes de sua vida, expressando sua própria entrega total a Deus.
E, em um marco histórico mais recente, foi justamente no dia 21 de novembro de 1964 que o Papa Paulo VI, ao encerrar a 3ª Sessão do Concílio Vaticano II, consagrou o mundo ao Coração de Maria e a declarou solenemente Mãe da Igreja. Uma coincidência providencial que sublinha a centralidade de Maria na vida da Igreja.
Curiosamente, também celebramos neste dia Nossa Senhora da Saúde, uma devoção popular que ganhou força após a terrível epidemia que assolou o norte da Itália entre 1630 e 1631, mostrando como a fé mariana é refúgio em tempos de aflição. E, por desejo do Papa Pio XII, este dia também é dedicado às Monjas de Clausura, almas consagradas que, à semelhança de Maria no Templo, dedicam suas vidas em oração e reclusão, um dom de amor silencioso pela Igreja e pelo mundo.
Um Caminho de Fé e Confiança
A Apresentação de Nossa Senhora no Templo é, em essência, um hino à fé e à confiança. É a certeza de que, quando nos entregamos por completo a Deus, Ele cuida de tudo, mesmo quando o caminho parece incerto. Que o exemplo de Maria nos inspire a viver cada dia com um coração aberto, um “sim” generoso e uma fé inabalável, buscando sempre a vontade de Deus em nossas vidas.
Que possamos, com a intercessão da Mãe de Jesus e nossa Mãe, confiar plenamente no Senhor, pois para quem acredita, tudo é possível.
Fonte de inspiração: Canção Nova
