A leitura do Apocalipse, capítulo 12, versículos 1 a 17, nos introduz a uma das passagens mais ricas e impactantes da Bíblia Sagrada. Ela narra uma batalha espiritual que transcende o tempo, revelando sua profunda relevância para o que o mundo vive hoje. Esta visão profética apresenta uma mulher e um dragão, figuras simbólicas de um conflito milenar.
A mulher, revestida de sol, com a lua sob os pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, grávida e em dores de parto, dá à luz um menino destinado a reger as nações. Diante dela, um grande dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres, aguarda para devorar o filho. Este menino, arrebatado para junto de Deus, representa Cristo, e a mulher, um mistério de fé e maternidade divina.
A Mulher, o Dragão e a Profecia Ancestral
A identidade da mulher no Apocalipse, coroada de doze estrelas, é tradicionalmente interpretada como a Virgem Maria, mas também como a Igreja. O dragão, por sua vez, é claramente identificado como a primitiva serpente, o demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro.
Para compreender a profundidade dessa imagem, o Apocalipse nos remete ao livro do Gênesis, capítulo 3, versículos 13 a 15. Após a queda, Deus pronuncia uma inimizade primordial: “Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar.”
O Início do Conflito e a Igreja
Esta promessa inicial do Gênesis ecoa no Apocalipse, revelando que a batalha espiritual entre a mulher e a serpente é tão antiga quanto a própria humanidade. Eva, a primeira mulher, cedeu à sedução do demônio. Maria, a “nova Eva”, respondeu com fé e obediência, reparando a desconfiança e a desobediência da primeira.
O combate narrado no Apocalipse, com o dragão e seus anjos enfrentando Miguel e os anjos de Deus, simboliza a expulsão de Satanás do Céu e sua precipitação na Terra. A luta da Virgem Maria e do demônio começou há dois mil anos, com a Encarnação de Cristo, e se estende por todo o “tempo da Igreja”, desde a primeira vinda de Jesus até a sua gloriosa segunda vinda.
O Concílio Vaticano II, no documento Gaudium et Spes (número 37), sintetiza essa realidade: “Um duro combate contra os poderes das trevas atravessa com efeito toda a história humana.” Estamos inseridos nesse combate, que durará até os novos céus e nova terra, onde o mal não terá mais lugar.
A Grande Tribulação e os Desafios Atuais
Hoje, muitos interpretam os sinais dos tempos como o início da “grande tribulação” mencionada no Apocalipse. O Catecismo da Igreja Católica, no número 675, adverte: “Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final que abalará a fé de numerosos crentes.”
Essa prova virá sob a forma de uma “impostura religiosa”, que oferecerá soluções aparentes para os problemas da humanidade, mas que, na realidade, levará à apostasia da verdade. O demônio, pai da mentira, é um mestre da sedução sutil, apresentando o falso como verdadeiro e o mal como bem.
Perseguição no Oriente e no Ocidente
A batalha espiritual se manifesta em duas grandes frentes. De um lado, há uma perseguição física e violenta aos cristãos em muitas partes do mundo, especialmente no Oriente Médio, África e Ásia. O século XX foi o que mais produziu mártires cristãos, e este século XXI tem visto um agravamento dessa realidade, muitas vezes ignorado pela grande mídia.
No mundo ocidental (Brasil, Portugal, Europa, Estados Unidos), a perseguição assume a forma de uma batalha cultural. Há uma campanha organizada para destruir a cultura cristã, a família e os valores que a sustentam. Vemos a exaltação do pecado, a relativização da verdade (ditadura do relativismo) e a promoção de uma “cultura da morte”, conforme alertaram Papas como João Paulo II e Bento XVI.
Os inimigos de Deus, astutamente, cooptam os poderosos – líderes políticos, econômicos, figuras da cultura e do espetáculo. Há evidências crescentes de envolvimento de elites em seitas e rituais que revelam sua aliança com o pai da mentira. Essa influência distorce informações, manipula a percepção pública e promove agendas anticristãs.
Maria, a Estratégia Divina e a Vitória
Diante dessa intensa batalha espiritual, a Divina Providência tem se manifestado de modos extraordinários através da Virgem Maria. Em 1830, em Paris, Nossa Senhora apareceu a Santa Catarina Labouré, revelando a Medalha Milagrosa. Nela, Maria pisa a serpente e tem na cabeça uma coroa de doze estrelas, confirmando sua identidade como a Mulher do Apocalipse que esmaga a cabeça do inimigo.
A Medalha Milagrosa é um sinal profético que nos alerta para o tempo de grandes batalhas que estamos vivendo e nos assegura a intercessão poderosa de Maria. Ela nos prepara, nos lembrando que estamos no início da realização das profecias do Apocalipse 12.
Nesta guerra, Jesus e Maria estão formando seu exército. Quem são seus recrutas? Não os poderosos do mundo, mas os pequeninos e humildes. Aqueles que, aos olhos do mundo, nada podem, são os escolhidos para combater o demônio. Para ser parte deste exército, é essencial crescer na humildade, entrando na escola de Maria.
A consagração à Virgem Maria é um caminho prático para isso. Ao se consagrar, o fiel entrega sua vida aos cuidados da Mãe Santíssima, permitindo que ela guie, forme e ensine a amar e seguir Jesus. A humildade cultivada na escola de Maria gera a obediência a Deus e à Sua Igreja, virtude que o demônio, por sua soberba, jamais conseguirá simular. Ser humilde e obediente é a chave para ser um instrumento de Deus nesta grande batalha espiritual.







