Estamos mais uma vez, com corações cheios de fé, celebrando a grandiosa figura de Nossa Senhora Aparecida, a amada Padroeira do Brasil. É um momento de voltar nosso olhar para um evento marcante que remonta ao ano de 1717, um marco na história da fé e da nação brasileira.
Foi naquele ano que, nas humildes águas do Rio Paraíba do Sul, uma imagem de cerâmica foi pescada, não por acaso, mas por um desígnio divino que mudaria para sempre o curso da devoção em nosso país. A história da Padroeira é um convite à reflexão sobre a providência de Deus e a presença materna de Maria em nossas vidas.
O Encontro Milagroso nas Águas do Paraíba
Imagine a cena: três pescadores em sua labuta diária, enfrentando as dificuldades do Rio Paraíba do Sul, procurando peixes que teimavam em não aparecer. A frustração, talvez, já começava a tomar conta. De repente, surge o inesperado. Não um peixe, mas algo muito mais precioso: eles pescam o corpo de uma imagem de cerâmica. Pouco depois, em outro lance de rede, encontram a cabeça.
Com as partes da imagem de Nossa Senhora reunidas, algo extraordinário acontece: os peixes que antes escasseavam surgem em abundância, preenchendo as redes dos pescadores. Este foi o primeiro grande sinal que precedeu o encontro da imagem, um milagre que revelou o sentido profundo daquele achado. Deus, através de uma simples pesca, manifestava Sua presença e a de Sua Mãe.
Aqueles pobres pescadores, com fé simples e o coração tocado, uniram a cabeça ao corpo, restauraram a imagem e passaram a venerá-la. Dali em diante, os sinais e milagres começaram a se multiplicar, fruto dessa devoção sincera e do amor de um povo que percebia que algo verdadeiramente especial estava acontecendo: era a presença materna da Mãe de Deus, agora também nossa mãe, a visitar seu povo.
Aparecida: Estrela da Evangelização e Mãe da Igreja
O Povo Brasileiro, ainda hoje, vive desse evento singular em que a Mãe de Deus nos visitou e deixou sua presença materna impregnando nossa história. Como bem nos lembra o Cardeal Paulo Cezar Costa, Arcebispo Metropolitano de Brasília, a celebração de Aparecida é a celebração de uma mãe que caminha conosco.
São João Paulo II, em sua homilia de 1980 em Aparecida, nos oferece uma profunda explicação sobre o mistério da maternidade de Maria e como sua missão aponta para uma Igreja Evangelizadora. Ele afirma que Maria, ao confessar-se “serva do Senhor” (Lc 1,38) e ao pronunciar seu “sim”, acolhendo o mistério de Cristo Redentor, não foi um instrumento meramente passivo nas mãos de Deus.
Pelo contrário, Maria cooperou na salvação dos homens com fé livre e inteira obediência. Sem nada tirar ou diminuir da ação de Jesus Cristo, o único Mediador entre Deus e os homens, Maria nos aponta as vias da Salvação. Vias que, invariavelmente, convergem todas para Cristo, seu Filho, e para a sua obra redentora.
O Concílio Vaticano II, na Lumen Gentium (60), afirma com precisão: “A função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; antes, manifesta a sua eficácia… e de nenhum modo impede o contato imediato dos fiéis com Cristo, antes o favorece.” Maria, portanto, nos leva a Cristo, sendo um caminho seguro e eficaz para Ele.
Como Mãe da Igreja, a Virgem Santíssima tem uma presença singular na vida e ação dessa mesma Igreja. Por isso, a Igreja tem os olhos sempre voltados para Aquela que, permanecendo virgem, gerou, por obra do Espírito Santo, o Verbo feito carne. Qual é a missão da Igreja senão a de fazer nascer o Cristo no coração dos fiéis (cf. Lumen Gentium, 65), pela ação do mesmo Espírito Santo, através da evangelização?
É por essa razão que o Papa Paulo VI a chamou de “Estrela da Evangelização”, pois ela aponta e ilumina os caminhos do anúncio do Evangelho, sendo um farol para todos os missionários e evangelizadores. Sua vida de fé e obediência é um modelo para que a mensagem de Cristo seja levada a todos os cantos do mundo.
Desse modo, o mistério de Aparecida continua a nos iluminar hoje em nossas dores, alegrias e esperanças. Ela continua a indicar o caminho da Evangelização como o caminho principal da Igreja. Porque o anúncio do Evangelho deve ser a “tarefa primária da Igreja”, e a causa missionária, a primeira de todas as causas.
Que a Mãe de Jesus e Nossa Mãe, Nossa Senhora Aparecida, nos ajude e guie neste caminho de fé, de conversão e de anúncio da Boa Nova, inspirando-nos a sermos instrumentos de Sua graça e amor no mundo.